O arrepio do frio denuncia e o som da água confirma: garoa em Belo Horizonte. A tão esperada chuva trouxe de volta momentos saudosos, audíveis e inconfundíveis. Aos poucos – provavelmente ao perceberem que a água se despede – é possível ouvir, ao longe, os pássaros saindo de seus esconderijos e cantando como se cumprimentassem os fracos raios de sol que brigam com as nuvens que ainda teimam em permanecer.
Ouve-se os gritos animados das crianças do bairro, saindo às ruas para brincar de qualquer coisa. Mas ainda garoa. “Sai da rua, menino! Vai pegar uma gripe!” adverte uma mãe que, se for como a minha, deve ter se rendido à molecagem do filho, negando com a cabeça e sorrindo para si mesma, em silêncio.
O caos de carros parece ter cessado, as buzinas incessantes de quem teve a mesma ideia do resto das pessoas – sair de automóvel – deu lugar ao suave, mas arrastado breque dos ônibus, provavelmente ao pararem no cruzamento da rua de baixo.
O cheiro adocicado e o raspar da colher na panela evidenciam: minha mãe deve estar fazendo o arroz doce que prometeu ao meu pai uns bons dias atrás. “No tempo de frio!” ela dizia quando ele perguntava sobre o assunto, desejoso. O arrepio denuncia e o som da água confirma: o tempo de frio parece ter chegado.
