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Os silêncios do Brasil – Crônica

by Camila Toledo

O dia do silêncio, celebrado no dia sete de maio de cada ano, acontece em um contexto totalmente inesperado, mas já presenciado pelo brasileiro a algumas décadas. O que seria uma data para refletir sobre o barulho do mundo e parar por um momento para desfrutar do conforto do silêncio se tornou um incômodo para quem vive em meio a pandemia: é um indício da presença do luto, da nuvem de dor, saudade e incerteza que paira sobre o Brasil.

E é ainda mais sofrido ouvir um “cala a boca” do presidente da república nessa mesma semana. O silêncio que Bolsonaro quer não é o do luto, uma vez que ele mesmo parece ignorar o panorama do Brasil com seu “E daí?” diante do número de mortos que, aparentemente para ele são apenas isso: números. O silêncio que o presidente quer se assemelha ao silêncio dos anos que sucederam 1964, o silêncio da censura. Além disso, enquanto a classe jornalística se arrisca nas ruas para levar a informação para a população do país, alguns irracionais os perseguem, pautados no discurso de ódio do governante máximo para legitimar suas agressões – tanto verbais quanto físicas.

Jornalistas estes que têm um objetivo: levar a notícia. Afinal, como poderia o povo brasileiro formar uma opinião sem ter conhecimento de todo o cenário? A população escolhia no que acreditar, como se posicionar baseando-se em fatos sérios, de profissionais sérios e jornais sérios; mas a partir de algum momento isso mudou e parte dos brasileiros passaram a confiar em correntes de redes sociais criadas por anônimos, baseados em boatos e compartilhadas por gente do alto escalão da política do país. Assim seguimos.

O acúmulo de funções não está nas redações, mas nos valores e ética de cada jornalista que, agora, além de dar a notícia, precisa ser mantenedor da democracia – que não existe sem o jornalismo -; precisa desmentir falsas informações; precisa instruir o leitor, o espectador, o ouvinte a se proteger contra um vírus que mata, não contra uma gripezinha. Ainda assim seguimos: desacreditados, perseguidos, caluniados; mas cada vez mais fortes, unidos e nunca silenciados.

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