Home Esportes O grito de “fora Tite” de um país que aprendeu a mitificar seus “vilões”

O grito de “fora Tite” de um país que aprendeu a mitificar seus “vilões”

by João Pedro Martins

A Confederação Brasileira de Futebol está em crise. Não que isto seja uma grande novidade, apesar de, evidentemente, ser de grande gravidade, principalmente se considerarmos os últimos acontecimentos envolvendo o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, e o caso se assédio reportado neste domingo (07) no “Fantástico” – A reportagem de Gabriela Moreira e Martín Fernandez trazem detalhes do caso. 

Para além do caso grave explicitado, há também a contestação a respeito da mudança da sede da Copa América, com Argentina e Colômbia desistindo de abrigar o evento, sendo este passado para o Brasil – País com mais de 400 mil mortes por covid-19 no momento do anúncio – e que não contou, pelo que se apurou em diversos veículos, com uma mínima comunicação interna entre cartolas da CBF e atletas/comissão técnica. Mas teve, aparentemente, uma fácil ligação do então presidente em exercício da CBF, Rogério Caboclo, e do presidente da república, Jair Bolsonaro. 

No meio desta situação existe a posição – ainda pouco clara – dos jogadores/comissão técnica. Não houve, até o presente momento, uma imponente afirmação por parte deles sobre o assunto. Nem sobre a questão sanitária em que a Copa América será (ou seria) disputada, ou sobre o que se acusa o presidente afastado Rogério Caboclo. O que se sabe é que existe um incômodo grande entre eles e a forma como o representante da CBF tem lidado com a situação – houve até relatos de constrangimentos em uma possível visita do cartola ao vestiário da seleção antes do último jogo contra o Equador.

Dentro deste contexto existe a cobrança, de parte da opinião pública, ao técnico Tite, o líder do time, o colocando como alguém que deveria assumir a decisão de se jogar a Copa América. A responsabilidade é dele. A culpa é dele. Isto é repetido à exaustão por aqueles que defendem a realização da Copa América, mais especificamente, aqueles que por afinidade com o governo federal defendem a realização do torneio em solo nacional.

Dentro de uma conjuntura de: uso do esporte por finalidade de política nacional; caso de assédio do presidente da entidade responsável pelo futebol no país; Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que tem como finalidade investigar possíveis erros do poder executivo na gestão da pandemia intervindo na situação com o senador Renan Calheiros (MDB) fazendo carta aberta aos jogadores e comissão técnica pedindo para que não joguem o torneio,trazer ao técnico da seleção a alcunha de “vilão” parece uma cortina de fumaça para que se escondam os verdadeiros “vilões”.

Quem seriam estes “vilões”? A resposta, se bem colocada e embasada, deve ser mais difícil do que apenas apontar um ou outro nome. É importante que sejam colocadas as peças da situação e quais são suas atribuições. A partir daí, fica mais claro perceber quem está e quem não está fazendo seu papel.

Ao presidente da CBF, Rogério Caboclo, cabe cuidar do cenário do futebol no país e da seleção brasileira. O que se sabe é que o futebol de clubes do Brasil não anda na melhor de suas formas. Também se apura, por parte da imprensa, que exista a ligação da Confederação com o Governo Nacional, o que não pode ocorrer segundo as regras da CONMEBOL. Fora isto, existe também, a acusação de assédio sexual contra ele. 

Ao presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, assim como já falado anteriormente, é importante que ele não se envolva nas questões da CBF e que cuide da situação nacional – principalmente neste momento de pandemia.

Aos jogadores e comissão técnica, cabe o jogo, o que se faz dentro de campo. Neste ponto, o Brasil venceu o Equador sem sustos, tendo como adversário uma seleção que costuma finalizar muitas vezes contra seus adversários. Não houve uma finalização certa dos equatorianos, e a vitória deixou o Tite com quase 80% de aproveitamento à frente do cargo. Outros trabalhos trabalhos – que são considerados bons –  tem algo em torno de 60% de aproveitamento.

À imprensa, a responsabilidade é de apurar. Saber o que se passa levando ao público aquilo que é de mais relevante e útil para a compreensão dos fatos. Pois o que tem se visto é que as informações chegam. Talvez não todas, mas a mais importantes. Desde a forma como Pedro Ivo (ESPN) trouxe o descontentamento dos jogadores com a presença de Caboclo no vestiário. Ou a de Vitor Sergio Rodrigues (TNT Sports) que trouxe a informação de que o afastamento de Caboclo acontecia a partir do medo de outros diretores de serem demitidos. A de André Rizek (Sportv) de que Caboclo havia prometido a Bolsonaro demitir Tite na próxima terça-feira – após o jogo contra o Paraguai –  e trazer Renato Portaluppi para seu lugar. E, evidentemente, a mais sério e grave deles, a reportagem de Gabriela Moreira e Martín Fernandez (Globo), que traz os áudios que fazem parte da acusação de assédio sexual ao reponsável da CBF.

Presidente da CBF, Rogério Caboclo. Presidente da República, Jair Bolsonaro. Técnico da Seleção Brasileira e seus jogadores. Imprensa. A forma como cada um agiu deve ser o norte para que se enxerguem os verdadeiros “vilões”. Aqui com “vilões” sendo encaixados em âmbitos jurídicos, para que a lei possa agir com aqueles que, eventualmente, possam ter cometido algum crime. Mas, além disso, que a opinião pública de maneira geral reflita: quem são os reais reis “vilões” desta história? Quem deve perder o prestígio em sua carreira? Quem deve se manter no cargo que ocupa?

Tite e os jogadores podem ser cobrados para terem um posicionamento e a imprensa pode ser cobrada para que faça seu trabalho cada vez melhor. Às outras partes cabe a opinião pública, ainda perdida com que acontece, decidir que tipo de cobrança fazer.

You may also like

Leave a Comment