Home Esportes Calendário mal feito, banalização de campeonatos e Seleção Brasileira: como a CBF consegue fazer de tudo para destruir seus produtos

Calendário mal feito, banalização de campeonatos e Seleção Brasileira: como a CBF consegue fazer de tudo para destruir seus produtos

by João Pedro Martins

O futebol brasileiro tem um calendário mal feito. São muitos jogos por temporada, o que acaba obrigando os times a terem que priorizar certos torneios – algo que acontece de maneira mais comedida na Europa. Para ajudar a composição deste cenário deplorável, há também o desrespeito do campeonato com as datas FIFA, obrigando times a ficarem sem os seus principais jogadores – sejam eles brasileiros ou não.

Esta é a CBF organizando o maior esporte do mundo dentro do território brasileiro. É um fiasco que vale a pena ser analisado com calma, buscando entender suas consequências.

Falando sobre o calendário apertado, é importante colocar a quantidade de jogos em perspectiva para explicar a falta de intensidade no esporte quando ele é praticado no Brasil – motivo este que talvez explique o crescente desinteresse dos mais novos, dada a qualidade duvidosa das partidas jogadas aqui. Além de que, as lesões passam a ser um elemento de “administração” dos clubes. Ou seja, o jogo piora em qualidade, seja pela falta de intensidade ou pelas ausências de jogadores por lesões.

Outra questão importante é a banalização dos torneios. Com tantas disputas simultâneas, alguns times simplesmente “abandonam” a disputa do campeonato brasileiro com a prerrogativa de “priorizar torneios mata-mata”. O campeonato nacional por pontos corridos, valorizado na Europa inclusive por consumidores daqui, perde brilho. Deixa de ter a relevância que poderia ter – A Premier League é levada a sério por todos os times ingleses. O Brasileirão é colocado em segundo plano por algumas equipes, por exemplo.

E, por último, temos o completo desrespeito às datas FIFA. Aqueles clubes que investem mais e que, por consequência, possuem teoricamente os melhores elencos são penalizados perdendo sua mão de obra durante parte importante do campeonato. As cobranças por conta disso acabam chegando inclusive ao técnico da seleção. Como se já não fosse pressão o bastante ser responsável pelo desenvolvimento do time internacional mais vezes campeão na história, o “treineiro” da canária ainda tem de conviver com críticas pelo desfalque dos clubes. 

Bom, como resolver isto tudo então? É importante que se encurte o calendário. Na minha opinião, os estaduais poderiam dar lugar a uma “Copa da Liga”como é feito na Inglaterra, por exemplo. Paralelo a isso, seria interessante desenvolver as outras séries do campeonato nacional. Assim, seria possível manter os times com menos renda com calendário ativo durante o ano todo sem que isso significasse um exagero de jogos que desvalorizam o produto final. Além de cuidar da questão física dos atletas, permitindo um jogo mais bem jogado – isto sem contar o tempo disponível para os treinadores trabalharem.

Pronto, agora só resta o último ponto. O que fazer com a seleção brasileira, este trambolho que consegue ser detestado e ao mesmo tempo cobrado para ser campeão de tudo? As seleções da Itália – atual campeã da Euro – e da Espanha e da Alemanha – Campeãs do Mundo em 2010 e 2014 respectivamente – respondem esta pergunta. Estes times são vistos em seus países como os expoentes do que significa o futebol nacional, a liga nacional, que possuem. Isto quer dizer que a organização da liga permite o desenvolvimento do futebol destas nações e que, por consequência, alimentam os times nacionais, com jogadores em alto nível e treinadores com ideias mais arrojadas. 

A Espanha Campeã do Mundo tinha um filosofia de jogo alinhada com o Barcelona da época. Contando com os jogadores do meio de campo do time catalão, a seleção mostrava pro planeta aquilo que desenvolvia em La Liga. A Alemanha campeã no Brasil tinha um time formado por maioria de jogadores do Bayern de Munique e Borussia Dortmund, times que rivalizavam no cenário da Bundesliga alemã e também pelo domínio da Europa, fazendo final de Champions League na temporada 12/13. 

A Itália, que agora volta a figurar entre as protagonistas, tem na última década uma Juventus dominante no cenário nacional, além de ter sido duas vezes finalista da Champions. E uma Internazionale e um Milan em processo de renascimento. Vale ainda ressaltar a Atalanta, que nas últimas três temporadas passou a figurar na elite do Calcio A e também no cenário continental. 

Conceitos de jogo, lapidação de jogadores. Isto reverbera na seleção. Os torneios disputados pelos times são uma maneira de desenvolvimento de um futebol que depois chega às seleções. Os dois movimentos – o de clubes e o de seleções – são, ainda que imperfeitos, harmônicos. Enquanto isso, os brasileiros passam a torcer para Argentina em final de Copa América por antipatia (que se explica de várias formas, seja pela admiraçao ao Messi; a ojeriza aos atos de abuso sexual e moral supostamente cometidos pelo presidende da CBF Rogério Caboclo; ou por questão política) daqueles que desfalcam seus times de coração.

A CBF consegue a proeza de destruir – um como agressor do outro – os seus campeonatos de clubes e a sua seleção nacional. Ambos, ainda com potencial de atratividade e desenvolvimento esportivo. Além, é claro, do desenvolvimento econômico.

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