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CABELO: HISTÓRIAS DE MULHERES REAIS

by Ana Flávia

Na última parte sobre a série que coloca em xeque a discussão sobre cabelos, nossa equipe entrevistou a estudante de Design Gráfico Mayra Stevam.

Imagem/Reprodução: Ariane Palma

“Foi uma infância e adolescência bem complicada, como para todos nós crespos. Nos foi ensinado a odiar nosso cabelo. O certo era manter ele sempre grande e liso, mas o cabelo crespo não foi feito para isso, então eu estava constantemente destruindo meu cabelo para entrar em um padrão. Essa ditadura do cabelo liso trazia muita dor psicológica, emocional e física. Me era reforçado o tempo todo que eu não seria considerada bonita ou arrumada se estivesse com meu cabelo natural, me ensinaram a me achar feia com meu crespo e isso tudo me trouxe vários problemas com autoestima e me tirou a oportunidade de crescer entendendo meu crespo. Eu perdi toda a fase de aprender a lidar com seu próprio cabelo, saber arrumar e saber o que dá certo. Isso é muito importante, principalmente para nós negros que sabemos que não é qualquer pessoa que sabe mexer no nosso cabelo, nós crescemos com os ensinamentos da família, normalmente só familiares cuidam do nosso crespo e nos ensinam isso tudo, e eu acabei perdendo toda essa parte porque estava muito ocupada odiando o meu. Eu não pude ver a transição acontecendo porque fazia química no meu cabelo, então não senti sua mudança natural. Tive transições forçadas pelos procedimentos que fazia que deixaram meu cabelo com a cor mais desbotada puxada para o castanho avermelhado, já ficou bem fraco, elástico e quebradiço. O meu cabelo 100% natural está crescendo agora, ainda não tive a chance de sentir a diferença das fases.
Quando decidi usar meu cabelo natural, tive muita dificuldade para aceitar e me ver no espelho porque estava acostumada a assimilar aquela imagem a algo feio. É algo que estou trabalhando aos poucos, ainda tenho um pouco de dificuldade para me ver com o crespo cheio que tenho, mas já o amo. Me encontrei muito nas tranças por causa da cultura, da história e beleza. Me traz um sentimento de poder, me sinto muito bonita e representada por minhas ancestrais. As tranças fazem parte de uma história que me foi privada durante o crescimento, mas hoje trago a importância delas comigo.
Tome seu tempo e procure conviver com pessoas que passam ou passaram por esse momento. É muito importante escutar outras experiências, saber que não é a única com esses conflitos e que esse turbilhão passa. Além das ajudas que elas podem te dar sobre como lidar com isso, sinto que quando você passa muito tempo negando seu cabelo, é muito difícil lidar com ele depois, você simplesmente não sabe o que fazer e isso tudo gera um desgaste emocional enorme, essa ajuda faz muita diferença. Se rodeie de pessoas (conhecidas ou não) que te inspirem a aceitar sua beleza como ela é e se afaste de quem te coloca pra baixo, esse tipo de pessoa não tem ideia do que você está passando e esse você não precisa dessa opinião. Procure sempre se amar e desconstruir as ideias que nos foi passada. Você é maior que isso tudo!”

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