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Solidão: o grande mal do mundo moderno

by Gabriel Barros

Um dos grandes males do mundo moderno, chama-se solidão. Apesar das redes sociais “suprindo” a necessidade de estar junto de amigos queridos, milhões de pessoas pelo mundo se sentem sozinhas. Segundo os dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, no Brasil, cerca de 14,6% da população vive sozinha. O assunto é preocupante a ponto de o Reino Unido criar o Ministério da Solidão, que é encarregado de atuar com outros órgãos do governo para enfrentar o problema. Visto a importância desse tema, a equipe do BeloriNews conversou com dois psicólogos, Gleice Kelly da Silva e Avner Danzinguer Araújo, que esclareceram questões sobre o assunto.

ENTREVISTA COM GLEICE KELLY DA SILVA

BN: O que é solidão?

GK: A solidão é o estado em que a pessoa se sente só. Pode ser por uma opção, ocasionado por alguma patologia psíquica ou por exclusão social. Pode ser caracterizada pela sensação de desamparo e incompreensão por parte dos outros.

BN: Como lidar com a solidão e sentir-se bem mesmo sem a companhia de outras 

GK: pessoas? Primeiramente aceitando o fato de que a solidão é algo inerente à existência humana (inseparável), compreendendo que por mais que se viva junto com o outro e se interaja socialmente, não será possível evitar a certeza de ser só no sentido de que cada um é o único responsável por si, dependendo exclusivamente de si para suas opções e realização de suas possibilidades.

BN: Porque algumas pessoas sentem que estão solitárias mesmo rodeadas por outras pessoas? 

GK: Pelo motivo de que, apesar do número de pessoas presentes na situação, não foi possível estabelecer uma ligação subjetiva no sentido de troca de experiências, de sentir-se aceito como fazendo parte do grupo. A relação estabelecida pelo indivíduo com o mundo se dá de maneira subjetiva ou seja como cada um percebe os acontecimentos.

BN: Em quais momentos o indivíduo está mais propenso a sentir-se só? 

GK: Segundo o autor Angerami em seu livro solidão a ausência do outro, estar com o outro de certa maneira ameniza o peso da solidão. Ao contrário do que muitos pensam ou acreditam, o autor explica que a solidão não surge em determinados momentos, o que acontece é que em determinadas ocasiões a experiência se apresenta de maneira mais aguda. Alguns momentos parecem mais insuportáveis pois o indivíduo se percebe em contato consigo mesmo sem a proteção da rotina. Nesse momento as zonas adormecidas gritam, tornando o confronto inevitável. 

BN: Por que muitas pessoas sentem medo da solidão?

GK: Pessoas sozinhas não são bem vistas. O conselho é sempre no sentido de estar acompanhado, se eu perguntasse qual seria a cor que representaria a solidão as cores mais prováveis seriam o cinza, marrom ou preto, afinal de contas solidão soa pesado e é desconfortável. Os bares lotados e indivíduos super conectados o tempo todo – para além do convívio socia,l nos remete a percepção como destacado por Angerami de que o ser humano não suporta o fato de ser só. 

BN: Quando a solidão se torna um problema? 

GK: Quando se transforma em um contínuo processo de sofrimento, quando se torna uma experiência dolorosa, pode-se levar a possibilidade do suicídio. Ambos se interligam, dependendo da maneira como cada indivíduo na sua subjetividade vivencia o contato com a solidão. Nesse sentido, o aconselhamento seria procurar ajuda de um profissional para que juntos possam explanar essa experiência. 

Referências Bibliográfica das respostas:

Livro: Solidão a ausência do outro (Valdemar Augusto Angerami)

ENTREVISTA COM AVNER DANZIGUER ARAÚJO

BN: Quais são as causas da solidão?

AD: Comumente se atribuem à solidão fatores como: baixa autoestima, depressão, falta de autoconfiança… Mas devo frisar que esses são apenas sintomas de algo mais profundo na psique do sujeito, e não as causas diretas. Afinal, o próprio conceito de solidão muda de pessoa para pessoa, além de existirem vários tipos de “solidão”.

BN: Quais os tipos de solidão?

AD: Há a solidão relacionada ao término de algum relacionamento, que então causa um processo de luto, aceitação dessa quebra de vínculos. A vida social fica “bagunçada”, precisando assim de um certo tempo para que se restabeleça, e isso é normal. Há também a solidão em relação ao convívio com outras pessoas, na qual a mesma sente-se deslocada de um grupo, ocorrendo muitas vezes em pessoas mais jovens. Esses problemas podem ser resolvidos ou apaziguados com um trabalho de integração ou psicoterapia, de modo que a pessoa possa se conhecer melhor e, assim, conhecer seus pontos fortes e fracos e reconhecimento de suas próprias vontades e personalidade. Há também a solitude, que se trata de um retiro voluntário, muitas vezes com fins de autoconhecimento e/ou mudança de modo de vida. Porém, há também a solidão extrema, que pode estar à patologias graves em alguns casos, como a depressão, esquizofrenia, bipolaridade…

BN: Qual o lado bom de estar sozinho?

AD: Como mencionado anteriormente, existe um tipo de solidão que é a solitude, na qual a pessoa, por livre e espontânea vontade, se enclausura, seja em sua casa, ou em uma montanha, um mosteiro, um retiro espiritual, com o intuito de viver uma vida longe da sociedade, por tempo indeterminado. Mas não é preciso ir muito longe para se beneficiar com essa solidão.

Quando meditamos em uma sessão de Yoga, mindfullness; quando a pessoa procura uma igreja para orar; quando se procura um psicólogo; quando se está em sua casa em final de semana; todas essas são oportunidades para se estar sozinho, introspectivo, e isso é muito necessário para manter a saúde geral – não só a mental – em dia.

Se nós não tivermos um tempo para nós, para nossos hobbies, para nosso descanso e/ou atividades lúdicas, estaremos fadados a adoecer gravemente a longo ou médio prazo.

BN: Qual o papel do psicólogo para auxiliar o indivíduo neste quesito? Como acolher a pessoa?

AD: O papel do psicólogo é compreender a realidade da nossa atualidade, ter visão crítica sobre a desumanidade e fatores biopsicossociais(que são a junção entre biológico, psicológico e social) e espirituais também que permeiam os indivíduos na sociedade. O psicólogo deverá acolher o caso sem julgamentos e, assim, propiciar um ambiente de escuta acolhedor, onde as pessoas poderão ser livres para serem elas mesmas e se expressar, o que muitas vezes é vedado ao indivíduo em sociedade. Um silêncio ou um sorriso podem esconder um grande sofrimento interno.

BN: Qual a relação de suicídio e solidão? 

AD: Não há de fato uma correlação direta com a solidão e os índices de suicídio, mas se considerarmos que maioria dos casos de tentativas de suicídio são precedidos de um estado de depressão profunda, até podemos remontar uma relação. Mas como já foi dito, a solidão experimentada pelo sujeito é deveras subjetiva. Cada um lida com a solidão da sua maneira. Pode ser que algo que ocorreu no passado de uma pessoa gere desesperança na humanidade ou nas pessoas; e no mesmo caso, pode ser um fator de força para lutar pelos seus ideais.

BN: Quando a solidão se torna um problema?

AD: Ela se torna um problema à medida em que ela não puder ser trabalhada e ressignificada. Quando o mundo parece caótico e sem sentido, e a alma se desconecta com o seu eu verdadeiro, provoca uma angústia e melancolia enormes. A pessoa simplesmente começa, patologicamente, a desenvolver transtornos graves, perder o sentido de sua vida, e considerar a possibilidade do auto extermínio como uma solução válida.

Lembrando que o suicídio é uma solução permanente para um problema temporário. É importante que se trabalhe as possibilidades de vida da pessoa, para que a mesma possa vislumbrar saídas menos bruscas e violentas para suas questões.

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