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A mulher negra no mercado de trabalho

by Ana Flávia

A mulher negra encontra inúmeros desafios no mercado de trabalho, que estão diretamente relacionados ao racismo estrutural e institucional. É um ambiente onde a desigualdade está presente, principalmente se olharmos para questões como raça e gênero.

A desigualdade no mercado de produção está diretamente ligada ao desequilíbrio social que vivemos no Brasil. Os dados apontam um crescimento do número de pessoas negras alfabetizadas e concluintes do ensino médio. Contudo o índice de analfabetismo entre as mulheres negras é duas vezes maior do que as mulheres brancas, segundo uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2014. No mercado de trabalho não é diferente, tendo em vista de que o acesso à educação ainda é muito precarizado. Grande parte das mulheres negras que se formam do ensino médio tem dificuldade de ingressar no ensino superior; os dados apontam que apenas 10% conseguem se formar na faculdade.

Segundo dados da Previdência Social, 39,08% das mulheres negras estão inseridas em relações precárias de trabalho, também fazem parte do maior número de pessoas que trabalham sem carteira assinada, e recebem os menores salários. Em diversas áreas do mercado a presença de mulheres negras é quase inexistente. Podemos levar em consideração o Cinema no Brasil; até o momento apenas duas mulheres negras conseguiram lançar longas-metragens.

“Embora vivamos em uma sociedade multirracial e haja muitos discursos de que no Brasil não há racismo, as mulheres negras têm grande dificuldade em se inserir em determinados lugares. Basta observarmos quantas mulheres trabalham em atividades de maior retorno financeiro. Quantas ocupam cargos políticos ou mesmo estão em altos escalões do governo?”, questiona Yone Gonzaga, Consultora em Relações Étnico-Raciais e de Gênero e, Doutora e mestra em educação pela UFMG.

A mulher negra ao buscar uma vaga de emprego por muitas vezes poderá ser julgada pela cor de sua pele, por seu cabelo entre outros atributos físicos. “Outra barreira é o fato de os Setores de Gestão de Pessoas ou Recursos Humanos das empresas, não estarem aptos tecnicamente para compreenderem a dimensão racial como um entrave para o ingresso de pessoas negras em mercados de trabalho”, conta Yone.

Dentro das empresas elas são a minoria, sendo que pouquíssimas conseguem chegar à cargos de liderança. A equipe do BeloriNews, conversando com um grupo de mulheres negras, encontrou alguns pontos em comum em seus depoimentos. O principal deles é de que, dentro das empresas, muitas vezes elas tem sua forma de trabalho questionada e precisam sempre se reafirmar para não ter sua ideia ou opinião invalidada.

O racismo estrutural como consequência do nosso processo de colonização corrobora com a situação de desigualdade dentro do mercado de trabalho. É interessante observar que, neste ambiente, o racismo muitas vezes não ocorre de forma explícita, e sim através de um comentário “sutil” e aparentemente inofensivo. Essas pequenas atitudes do cotidiano precisam ser mudadas, vivemos uma batalha constante contra o racismo, mas ele precisa ser combatido por todos.

Yone diz que a melhor forma de derrotar o racismo estrutural é a denúncia: “O silêncio em relação às diversas formas de discriminação racial e de opressão gênero permite a reincidência. Penso que a questão racial é um problema que deve ser enfrentado por toda a sociedade brasileira e não somente pelo segmento negro. Afinal, não basta as pessoas fenotipicamente brancas fazerem discursos de que não são racistas. Elas precisam se posicionar e agir contra todas as formas de discriminação e opressão que tem no pertencimento racial a sua origem”, afirma ela.

O feminismo negro

A pauta da igualdade de gênero e racial está sendo discutida constantemente. Podemos dizer que o feminismo tem sido um grande auxílio para que as mulheres negras possam alcançar seus objetivos em suas respectivas carreiras. Está havendo uma ruptura nos padrões impostos pela sociedade, isto fica claro quando observamos o fenômeno da transição de cabelos. É possível perceber que esse foi um grande marco do feminismo negro no Brasil, colocando em evidência outros assuntos que estão diretamente relacionadas à diversidade. A rede de apoio que foi possível criar através do feminismo têm servido de inspiração para que mulheres negras possam discutir os principais desafios que enfrentam na sociedade e, partir disso, encontrar soluções para mudar o cenário atual.

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